segunda-feira, julho 21, 2008

TEATRO GREGO – SÓFOCLES



SÓFOCLES – Nascido por volta de 496 a.C., na cidade de Colona, província da Ática, Sófocles era filho de um rico comerciante de espadas. Desde cedo participou da vida teatral, interpretando vários papeis femininos nos festivais dramáticos, uma vez que na Grécia antiga a mulher não tinha acesso ao palco. Aos 16 anos, conta-se, foi escolhido para dirigir o coro dos adolescentes que, depois da batalha de Salamina, em 480 a.C., dançaram nus ao ritmo do peã, hino em louvor ao deus Apolo. Amigo pessoal de Péricles, Sófocles chegou a ocupar altos cargos no governo ateniense. Em 443 foi nomeado ministro do tesouro; no ano seguinte, foi eleito magistrado. Durante a importante expedição de Péricles contra Samos, acumulou as funções de tesoureiro imperial e de general. Já velho, uniu-se a uma cortesã, com quem teve um filho, Iofonte, nascido de seu casamento anterior, com a ateniense Nictóstrata, temendo que o pai legasse seus bens a esse irmão ilegítimo, morreu contra o tragediografo uma ação judicial: acusou-se de senil e incapaz. Levado à presença dos juizes, Sófocles defendeu-se lendo trechos de Édipo em Colona, que estava escrevendo nessa ocasião, e foi absolvido. Sófocles morreu em 406 a.C., cantando versos de uma de suas mais belas tragédias, Antígona. Deixou cerca de 120 peças, das quais só restam 7: Antígona (444), Ájax (441), Édipo Rei (430), Electra (420), As Traquínias (414), Filocetes (409) e Édipo em Colona (406). Nos concursos dramáticos realizados em Atenas, alcançou 26 vezes o primeiro lugar e 40 em segundo. Sófocles trouxe contribuições fundamentais ao desenvolvimento da tragédia. Aos dois únicos atores anteriores, o protagonista e o deuteragonista, acrescentou um terceiro, o triagonista, fechando com ele o circulo da ação e da emoção. Aumentou também o numero dos integrantes do coro de 12 para 15. Documentos da época testemunham suas invenções no campo da cenografia e tudo leva a crer que tenha sido o primeiro a proporcionar um fundo definido a seus personagens. Como em Esquilo e Eurípedes, os temas em Sófocles são os mitos. Os mitos gregos são simultaneamente divino e heróicos, e neles os heróis representam o elo entre o mundo dos homens e dos deuses.
Uma das mais grandes tragédias da literatura dramática é Antígona, escrita em 442, antes de qualquer dos textos de caracteres remanescentes. Sófocles dedica-se aqui a um conflito básico, as pretensões rivais do Estado e da consciência individual.
A questão fundamental á descobrir como estabelecer um termo médio entre esses princípios e evitar a catástrofe quer para o grupo quer para o indivíduo. Afora isso, a oposição ainda mais geral entre amor e ódio lança sua magia sobre toda a peça.
Sófocles não procura desviar o drama em favor de sua heroína, pois reconhece os direitos do Estado e do interesse público.
Embora Sófocles não se incline a resolver a disputa entre o Estado e a consciência individual, contentando-se simplesmente em observar que as conseqüências do conflito tendam a ser trágicas, o ímpeto de sua piedade e de sua caracterização de Antígona lança o peso da simpatia, ao menos quantos aos leitores modernos, para o lado da nobre moça.
Esta deslumbrante tragédia deixa em suspenso diversos problemas que não entregam com facilidade seu significado ao leitor casual.
A mesma batalha com um tema importante e difícil distingue as duas grandes peças que colocam o problema do destino. Usualmente o acidental é considerado um artifício barato e fácil na literatura dramática. Mas não é barato nem fácil no Édipo Rei. O acidente ocorre antes do início da peça e amarra as circunstâncias num nó que só poderá ser desatado após prolongada batalha. Além disso, felizmente, Sófocles estava à altura da tarefa. Es não podia esperar resolver o enigma do destino, ao menos conseguiu uma das incontestáveis obras-primas do mundo. E é novamente seu soberbo Dom para a caracterização que enriquece a simples mecânica da dramaturgia com vida, agonia e plausibilidade.
Como alguém que viu a vida "equilibradamente", segundo suas luzes pagãs recusou-se a codificar a existência do acidente na tragédia. Édipo é uma personagem superlativamente ativa, como se o dramaturgo ático tentasse nos dizer que o destino trabalha através do caráter da vítima. Com efeito o fado encontra forte aliado neste homem corajoso, nobre a de ótimas intenções, cuja única é o temperamento inflamável. Tanto suas virtudes quanto defeitos conspiram contra ele.
Sem ser moralmente responsável, Édipo é psicologicamente responsável pelos tormentos. Consequentemente é uma personagem dinâmica e um sofredor ativo; na verdade, é uma das figuras trágicas da literatura.
A estória de Édipo nos convida a descer às profundezas da antropologia e psicanálise modernas que foram intuitivamente perscrutadas pelos poetas desde tempos imemoriais. Somos relembrados dos impulsos anárquicos e incestuosos que complicam a vida do homem e se exprimiram em tantos tabus primitivos e neuroses civilizadas. Como toda obra de arte superior, esta tragédia tem uma vida dupla: aquela que expressa e aquela que provoca.
A seqüência a esta tragédia, o sereno e encantador Édipo em Colona, escrito muitos anos mais tarde, é o Purgatório e Paraíso do Inferno de Sófocles. O problema do destino inexplicável colocado pelo Édipo Rei não é respondido no trabalho posterior. Mas pelo menos uma solução é indicada: O que o homem não pode controlar, ao menos pode aceitar; o infortúnio pode ser suportado com fortaleza e enfrentado sem sentimento de culpa. Édipo está purgado e curado. E com ele, nós que o seguimos aos abismos imergimos liberados e fortificados.
Logo após a apresentação de Édipo em Colona, em 405 Sófocles foi juntar-se à sombra de Ésquilo. No mesmo ano fatídico falecera também Eurípides e morreria a glória que era a Grécia, pois Atenas sucumbiria ao poderio militar de Esparta. Nenhum mestre da alta arte da tragédia floresceu em Atenas após a morte de Sófocles.

FONTE:
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